quinta-feira, 7 de maio de 2009

A mediunidade de minha mãe – FINAL

mãe

O ano era 1985 e minha mãe decidiu ir para o Rio de Janeiro, no Trem de Prata, ver o pai, o irmão e outros familiares. Quando voltou, disse que esteve em Paquetá e, andando por algumas ruas, teve vários déjà-vus, ou seja, a sensação de já ter vivido ali em outras vidas.

Nessa conversa, que minha mãe teve a sós comigo na sala, à noite, bem tarde, por sinal, ela assumiu mais de uma dúzia de personalidades diferentes em meia hora de conversa. Do nada, ela que estava doce, meiga, ficava nervosa, me xingava, aí chorava, voltava a sorrir… Era o fim de minha mãe se aproximando.

Foi quando ela fez seu derradeiro vaticínio: “O Tancredo Neves vai ganhar do Maluf na disputa do Colégio Eleitoral para presidente, mas não vai ser empossado!”.

Aí, me lembrei que ela vivia dizendo para um amigo nosso (mais amigo dela e do meu avô), Antônio Guerra, homem de teatro, carreira fantástica, que já tinha quase 90 anos naquela época:

- Guerra, eu vou embora antes de você!

Ela sempre disse isso, que morreria antes do Guerra.

As semanas foram passando e os três gatos que nós tínhamos foram morrendo, um a um.

No dia 13 de março de 1985, quarta-feira, eu estava dormindo e minha mãe recebeu um telefonema da TVS (hoje, SBT), me convocando para comparecer ao escritório do Silvio Santos, no Ibirapuera, para me entrevistar com o sr. Crayton Sarzi, na época diretor artístico da emissora. Isso porque, em janeiro daquele ano, escrevi para a TVS e enviei uma cópia de um dos capítulos da minha novela espírita, mencionando na carta o meu vizinho, Waldomiro Baroni, que era diretor de televisão e conhecido do Crayton. Na carta, eu “modestamente” manifestava o meu desejo de escrever novelas naquela emissora…

No dia seguinte, lá estava eu, diante do Crayton. Ele me deu uma novela com 201 capítulos e disse:

- Quero que você leia tudo, faça uma sinopse do que leu e, depois, uma sinopse do que você pretende mudar. Só não pode alterar o plot central, o resto pode!

Quando voltei para casa e contei a minha mãe, que estava no sofá, sobre a novidade, ela disse, suspirando:

- Ahhhhh… agora, posso ir em paz!

Dia 18 de março de 1985, segunda-feira, à 1h30 da manhã, minha mãe desencarnou.

Em tempo: Antônio Guerra veio a falecer meses depois, assim como minha mãe sempre havia dito…

2 comentários:

Rafhaelbass disse...

Nossa, li as outras partes, e realmente é muito comovente, é isso o que eu posso dizer, sua mãe foi uma guerreira.

Estaria orgulhoso.

Mas fiquei com uma dúvida, como ficou a novela? você editou ela? qual foi?

Bronca no Trombone disse...

Na verdade, minha mãe foi uma sofredora, e também uma guerreira, mas nos últimos anos de vida dela, sofreu muito. A novela, eu cheguei a escrever 273 capítulos e parei, quando o Crayton Sarzi, da então TVS, me chamou. Acabou que não deu em nada. Se os cupins não devoraram a novela, alguma coisa deve ter sobrado. Mas aquilo, lido hoje, me daria vergonha, pois era muito bate-papo sem ação nenhuma... Depois, sim, fui aprimorando os meus roteiros e tentei de várias maneiras ter algo na TV, mas nunca consegui. Acho que nesta vida não é para eu ser escritor...